domingo, 15 de dezembro de 2013
sábado, 3 de agosto de 2013
Por tudo que eu vivi (Mãe)
Desenhei-lhe com toda a irracionalidade, pintei-lhe com as cores da
humildade, do amor e do segredo, porque agora já sei que nenhum ser racional
arriscaria como você fez por mim.
A humildade deste moço, que até hoje não passa de um “menino do mato”, é
sua!
É de si, esta minha forma desmedida de amar, quando todas as noites, com
desespero, esperavamos pelo nosso pai,
seu amor, para nos reunirmos ao redor da mesa pouco farta.
Mãe, eu guardei comigo este segredo, mas é chegado o momento e revelo: eu sei quantas vezes você
se segurou para não chorar a nossa frente, quantas vezes você chorou e rogou,
por nós, todos os seus deuzes.
Você lembra mãe, quando a vida me desenganara, e a minha merecida punição
me deitava ao relento, a brisa pouco aprazível da madrugada muda e tenebrosa da
varanda nossa, e aí, tipo um conto eu acordava morno e próspero em sua cama?
Mãe, este meu sorrir belo é seu! É seu este meu gingar moço – aprendi de si,
quando passavamos as noites em frente ao espelho, em seu quarto de dormir,
tentando costurar as rugas com alguma conversa longa, e refrescar esse sorriso
seu (o mais doce que já experimentei nessa vida), para que eu e minha maninha Egnesse Tânia
pudessemos acreditar que nascemos para ser felizes e o mundo “é para nós”.
Mãe, é sua essa liberdade minha, essa estupidez minha de dizer as coisas –
aprendi todas as vezes que, com frases pouco elaboradas, você nos falava do seu
magnánimo amor por nós, no silêncio mais sublime que já vivi.
Peço perdão por não ser o filho perfeito que você sonhou para a sociedade
dos Homens – esta sociedade onde quanto mais normal se é, mais melhor se é
também.
Eu não fui a tempo de aprender isso – não fui a tempo de ser normal! Eu não
posso ser normal!
Eu não sou normal mas acatei alguns dos seus ensinamentos – “há que ser
livre e feliz!”
Então, que venha o amanhã!
Te amo Ilda Samissone, minha mãe!
segunda-feira, 17 de junho de 2013
Rascunhos de uma conversa inesquecível (Parte I)
Está uma noite daquelas aborrecedoras, em que tenho
muitas tarefas da escola mas não sei por onde começar. Me fiz a uma rede
social, e a minha página me dá a indicação de alguém que gosta de uma foto
minha.
Ela estava ainda “Online”.
Eu disse a ela “o céu e o mar vivem em seu olhar, e
muitos arco-íris voam sobre si”.
Foi o começo de uma metade de conversa.
Perguntou-me ela -
“quem és tu?”
Respondi -
“Ninguém! Mas se me amares posso me tornar alguém.”
E de seguida ela me mandou um daqueles “smiles” irônicos,
que dão a impressão de um “ha-ha-ha-ha”, mas no fundo eu senti que ela sorriu,
pelo tempo que durou para mandar o smile.
“Você é poeta?” – perguntou ela.
Eu respondi no meu mais simplório jeito de ser “todos somos poetas, quando o coração
tem algo para dizer...” e me calei no fingimento mais amargo, de quem não tem
muito a comentar.
De seguida ela me escreveu “aprazível
é o seu jeito...alma aberta, chuveiro ao ar livre, em dia de sol rubro. Tão
raro! Você é uma raridade erguida entre os homens! Eu respeito a sua honestidade
e a profundidade de suas idéias.”
Esses são os dizeres que mais me amoleceram a alma na
noite de hoje, dizeres perante os quais não se pode ficar sem dizer nada.
E agora?!
Despedi-me de emergência porque o compromisso de estudar
para a prova me esperava, e deveras prometi voltar amanhã.
Tinha realmente que dizer algo ainda desmedido “Adeusinho,
minha semente de cacana(1 amadurecida,
casca de canho(2 amarelo, incenso de batata alaranjada e limão doce.
Ela sorriu em um “smile” bem prolongado e escreveu “tu és
romântico. A moda maluca, mas romântico!”
E eu fui “Offline”, ansioso para voltar com brevidade a este pedaço de
prosa.
(1 - termo moçambicano usado para designar a planta, Momordica balsamina,
(2 - fruto da planta Sclerocarya birrea (ou caffra), ocanho (do ronga nkanye, segundo [PM]) - moçambicanismo. É deste fruto, conhecido nos
países vizinhos como marula, que se faz o conhecido licor Amarula.
Sonidos de cio
quando as tuas mãos passeiam ociosamente sobre o meu organismo,
e o meu organismo devaneia a te procurar vadio.
Teu jeito impetuoso de fazer,
faz meu coração vergar
e dizer dizeres que me comprometem,
e gritar “não”,
amiúde forjar meu desejo que prende no tecto da boca o meu “sim”.
Ohh Preta de lábios carmin,
Eu quero só para mim a tua fragrância,
néctar divino que exala do teu corpo moldado de rubim.
Leva-me!...
Mas não para muito longe do meu habitat natural.
Faça de mim sua metrópole,
Só não me deixe alvejar pelo seu olhar radiante
que pode por ventura até matar a minha visão.
Para quê mais palavras se o silêncio já as contém em demasia?
quinta-feira, 13 de junho de 2013
Ama-me!
mas
cegamente eu sinto,
inebriador
o beijo alado
que iça
os meus desejos
e
deixa-me aos teus pés, brunido.
Meus
olhos desfocados já não vêem
mas
sentem que as suas pernas movem-se e abrem-se
rendendo-se
ao encanto do meu olhar pedinte.
Ama-me!
Eu
sinto que teu olhar me tateia
e teus
lábios contornam os meus;
a
saliva que goteja da tua boca
é a
mentira revelada dum coração bandido.
Teu
querer é o meu naufrágio,
ao qual
me entrego exaurido
como
uma criatura sem presságio.
AMA-ME!
AMA-ME!
Os anões comedores de farinha
Fazia um frio daqueles de queimar o escroto! Ancorado na cama, revivo o surgimento de um espírito anão que me quer vivo ou morto e, tento desfarçar, com ímpeto, que detenho o meu grito solto, preso na garganta tentando reviver algumas estorietas que me encontram por aí.
Não consigo!
Ouvira falar ontem, que há anões que andam por aí tentando sequestrar almas pela cidade. É tanta gente que comenta que já chego a acreditar e também me sinto vítima. Tento arranjar explicações fúteis para não acreditar nisto e a minha mente acusa que os boatos sobre os anões constituem uma nova prática que vem anunciar que a fome acabou, pois as pessoas andam a desperdiçar farinha de milho em rituais banais, feitos ao redor de suas casas. Que fartura!
O meu silêncio incomoda-me bastante nessa hora e, rezo a todos Deuses para que nenhuma voz me venha chamar a janela, pois dizem que assim o fazem os anões.
De repente me flagro num riso encorajador, oriundo de uma conversa que tive ontem com Macalane e Ngunga. Faláva-se da possibilidade de investigar, aplicar, publicar e exportar técnicas e instrumentos usados para o "Xitega" (palavra
da língua chiyao usada para designar o feiticismo; conjunto de normas e procedimentos de curandeirismo ou feiticismo). O Xitega é um feitiço terrível cujos procedimentos para o efeito são desconhecidos; os maiores mestres se encontram no Distrito de Majune (Niassa). Quissá no desvanecer da minha coragem vá ate lá buscar protecção contra os anões.
Tenho bons relatos dos nativos da região que dizem que os feiticeiros de Majune são os bons. Dizem que são capazes de fazer secar uma frondosa árvore num instante e também podem fazer parar a chuva com um truque que usa machado e pedra. Já imaginaram se usássemos esse conjunto de técnicas para a revolução verde? Seria muito útil, vejam: controlaríamos pragas; invés de matar plantas num instante faríamos crescer várias e assim teríamos muita comida - neste sentido bem hajam os feiticeiros de Majune.
Com toda a sinceridade tenho a confessar que não conheço pessoa alguma que não tema a potencialidade dos mestres de Majune, se não duas pessoas; uma delas é o Mestre Wilson, cuja desenvoltura ostenta segredos da região, ocultados em uma bengala e pasta, negras, que nem por esquecimento o soltam.
Queria eu que esta sorte fosse a mesma da estória de um chinês, que viveu em Marrupa, que se deu mal ao comer uma cobra guisada.
Permitam-me desenvolver este rumor que me chega revestido de contemporaniedade:
- era de apanágio o chinês deliciar-se ao sabor de cobras por si muito bem preparadas. Hábito este que segundo contam, trouxera ele da China. Inúmeras vezes o chinês foi avisado da peculiaridade das cobras de Marrupa, todavia desafiou os comentários místicos e se fez ao assalto de uma, eviscerou-a, cozeu-a e comeu.
Contam aqueles que se categorizam presentes oculares que não passaram muitos minutos da refeição para que ele tivesse ataques anafiláticos tenebrosos. Acrescentam, talvez com exagero, que a sua pele começou a mudar apresentando variações de verde, vermelho e amarelo, tal como as escamas da cobra que comera até que depois de poucos minutos "bateu as botas".
Oh! Foi entregue a sua própria sorte! São coisas de Niassa mesmo.
São muitas coisas interessantes que tenho ouvido cuja menção não caberia neste sussurro.
Fala-se que tempos tenebrosos já marcaram este "pedaço do inferno": foram tempos em que as pessoas tinham medo de ser ricas, por medo de “Xitega”, tempos de trovões encomendados, de frio e neve - em que o sol aparecia ao entardecer - numa vermelhidão pouco demorada tal como o sol de Satanás; nas ruas, cães e bêbados de “Kabanga” (palavra
da língua Chiyao que designa uma bebida tradicional) eram encontrados cobertos de cacimba e dor desvanecida pela madrugada; no campo as pessoas quebravam cadeiras de palha e/ou madeira para fazer fogo e aquecer as suas almas aflitas de frio sem presságio de fim, pois toda lenha se encontrava humedecida.
Sim, são factos reais banalizados na boca de quem os conta.
Enquanto penso nisso tudo, vou adormecendo, num sono intercalado de medos, rezando à sorte de que não me venha a janela um anãozinho pois a “roto e rasgado” vai a minha cozinha, que nem um grão de farinha tem para se deitar.
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