Desenhei-lhe com toda a irracionalidade, pintei-lhe com as cores da
humildade, do amor e do segredo, porque agora já sei que nenhum ser racional
arriscaria como você fez por mim.
A humildade deste moço, que até hoje não passa de um “menino do mato”, é
sua!
É de si, esta minha forma desmedida de amar, quando todas as noites, com
desespero, esperavamos pelo nosso pai,
seu amor, para nos reunirmos ao redor da mesa pouco farta.
Mãe, eu guardei comigo este segredo, mas é chegado o momento e revelo: eu sei quantas vezes você
se segurou para não chorar a nossa frente, quantas vezes você chorou e rogou,
por nós, todos os seus deuzes.
Você lembra mãe, quando a vida me desenganara, e a minha merecida punição
me deitava ao relento, a brisa pouco aprazível da madrugada muda e tenebrosa da
varanda nossa, e aí, tipo um conto eu acordava morno e próspero em sua cama?
Mãe, este meu sorrir belo é seu! É seu este meu gingar moço – aprendi de si,
quando passavamos as noites em frente ao espelho, em seu quarto de dormir,
tentando costurar as rugas com alguma conversa longa, e refrescar esse sorriso
seu (o mais doce que já experimentei nessa vida), para que eu e minha maninha Egnesse Tânia
pudessemos acreditar que nascemos para ser felizes e o mundo “é para nós”.
Mãe, é sua essa liberdade minha, essa estupidez minha de dizer as coisas –
aprendi todas as vezes que, com frases pouco elaboradas, você nos falava do seu
magnánimo amor por nós, no silêncio mais sublime que já vivi.
Peço perdão por não ser o filho perfeito que você sonhou para a sociedade
dos Homens – esta sociedade onde quanto mais normal se é, mais melhor se é
também.
Eu não fui a tempo de aprender isso – não fui a tempo de ser normal! Eu não
posso ser normal!
Eu não sou normal mas acatei alguns dos seus ensinamentos – “há que ser
livre e feliz!”
Então, que venha o amanhã!
Te amo Ilda Samissone, minha mãe!
Nenhum comentário:
Postar um comentário